"Ai... vai começar! Não aguento mais esse mimimi!" - opa, vamos rever essa frase?
Quando pensamos em comunidades, pensamos em diversidade, certo? Bem, tenho que discordar um pouco, se buscar na internet os eventos referência de mercado, vemos nas diversas timelines, grupos geralmente com maioria ainda masculina, entre 20 e 35 anos, calça jeans, em uma imagem estática que reforça o aparente normativo de líderes, homens, brancos de classe média a alta.
Em 2014 sai do setor corporativo e passei por várias situações que me deixaram muito incomodada. Foi um período complexo para uma mulher, negra, mãe e com mais de 35 anos. Atuei por anos em cargos de gestão, trabalho desde os 12 anos e construí uma boa jornada, nesse momento fiquei frente ao mercado de tecnologia, que é fundamentalmente masculino, e que o tempo todo dizia que não era meu lugar porque eu não cabia ali. Ouvi de algumas pessoas de recolocação profissional que meu currículo precisava ter algumas partes retiradas porque era "alguém" fora da curva : mulher, negra, outros idiomas, experiência em gestão, atuação em multinacional e periférica?
Então conheci o Startup Weekend, meu 1º foi sob a batuta da Mestra Ana Fontes da Rede Mulher Empreendedora e de um time de mentoras que desde então trago no coração e que me inspiram, com quem sempre busco trocar para melhorar minhas habilidades.
Abri meu CNPJ e percebi que sem uma marca conhecida no cartão de visitas para abrir portas, todo o trabalho se torna bem mais difícil. Foram 2 anos de ralação pura, muitos projetos que só pagavam o deslocamento, e o que me mantinha em movimento era ver que estava mudando a vida de pessoas das regiões onde outras pessoas não queriam ir. Me aprofundei em STEAM, um acrônimo para Science/Ciências, Technology/Tecnologia, Engineering/Engenharia, Arts/Artes e Mathematics/Matemática, busquei certificações e após algum tempo fui estudar pedagogia. Minha formação em Publicidade e experiência na área de serviços e Customer Success, fez toda a diferença, e os conhecimentos de projetos técnicos somou muito para criar um jeito diferente de "ensinoaprendizagem", muito usado pelo MIT voltado a projetos, super alinhado as melhores práticas do STEAM.
Não parei! No caminho, estive em muitos eventos onde era a única mulher, e com mais frequência a única pessoa negra, isso foi aumentando o senso de algo precisava mudar, a ponto de escolher mudar de lugar, de forma muito consciente, saindo de público para palestrante e mentora, buscando provocar as pessoas, reafirmando que sim a negra está presente, deixando de ser apenas uma pessoa não branca no local -"Oi! Por que essa fala agora?"
É, em muitos lugares eu não era negra, e sim não branca, o que é bem diferente e fazia com que o discurso de Diversidade se posicionasse como presente, ignorando o fato de baixa representatividade de pessoas realmente diversas ali.
As primeiras comunidades que me acolheram foram as essencialmente femininas : Rede Mulher Empreendedora, Programaria, Mastertech, Desprograme, WhoMakersCode, Reprograma, entre outras onde o foco é dar protagonismo, validar a presença e a voz de mulheres incluindo negras e periféricas.
Aprendi muito sobre comunidades, principalmente nessas lideradas por mulheres maravilhosas e empenhadas em abrir espaços seguros. Atuei como mentora em diversos eventos, mediei e organizei outros, inclusive Hackathons com a participação de parceiros na Diversidade. Desde 2017, os movimentos voltados a negritude ficaram mais organizados, neles conheci pessoas negras poderosas e inspiradoras, porém durante os dois anos anteriores, era raro vê-las nas lideranças, e menos ainda nos painéis e lugares de fala.
Então em 2020, mediar um painel para mostrar o trabalho de negras protagonistas em um cenário de comunidade em sua essência mais antiga de conectar pessoas pelo lugar em que moram, pelas mesmas necessidades e alegrias, pelo potencial do lugar onde vivem, é validar que a jornada está valendo a pena. Vivo, finalmente, em meu lugar de fala enquanto mulher negra, caminhando para uma realidade que acolhe a Diversidade, que aceita o que é plural e mais rico entre nós : o sermos diferentes, com histórias diferentes, com construções diferentes, as conexões que nos permitem construir algo ainda melhor para todas as pessoas envolvidas direta ou indiretamente nessa aliança.
Poder conectar tantos grupos diversos e potencializar o que há de melhor no todo tem sido uma tarefa prazerosa e constante, que envolve sim dedicação, carinho e muito respeito, porque cada história importa, cada pessoa importa e ninguém deve ser deixado para trás, todos tem de brilhar em sua própria luz, deixarem o anonimato e serem visíveis!
Entender que um Community Manager cuida de comunidades, gerando sinergia e ações de crescimento coletivo é parte da jornada diária em que vivo, e mais que isso no legado que acredito é construído coletivamente e para o bem maior.
Espero poder somar com as Diversidades que estão nesses grupos, e espero que a jornada seja sempre vista como parte do crescimento, baby step, onde dar as mãos nos fortalece.
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Programa Mestre Diversidade Inclusiva: https://www.linkedin.com/company/mdimestrediversidadeinclusiva
Gostaria de ouvir também as suas histórias.
Abraços,
Samantha