Psiu... Me conta aí... Você já pensou em #comunidades como organismos vivos?
Desde que comecei a refletir e estudar sobre comunidades com mais consistência, sempre me conecto com a imagem da árvore.
É tão profundo para mim que ressignifiquei o termo Community Managers para Community Gardeners, ou em bom português, Jardineiros de Comunidades.
E, ao falar isso, acabo trazendo para esta comunidade uma provocação reflexiva sobre o próprio trabalho do Community Manager enquanto gerente de comunidade.
Provocação inspirada na fala que o Seth Godin faz, no livro Tribos: Nós precisamos que você nos lidere, sobre as diferenças de um líder para um gerente e que, desde que li, mexe muito com a minha identidade enquanto profissional CM.
“Os gerentes gerenciam um processo que eles já viram antes e reagem ao mundo externo, esforçando-se para tornar aquele processo tão rápido e barato quanto possível. A liderança, por outro lado, tem a ver com criar uma mudança na qual você acredita. (…) Movimentos possuem líderes e movimentos fazem com que coisas aconteçam.
Quem fez o curso básico aqui na Community Management Academy viu que temos vários tipos de comunidades e também conheceu melhor quais são as responsabilidades de um CM.
Algumas comunidades são disfuncionais, não se enquadram no que eu chamo de Comunidades Sistêmicas, que são os grupos estruturados com base nas Leis Gerais dos Sistemas, a Ordem, o Pertencimento e a Reciprocidade.
Acredito que as relações nesses ambientes de confiança (que ela chama de Comunidades Sistêmicas) são o caminho das organizações no mundo VUCA e precisam ser cuidadas e nutridas, como jardineiros fazem com suas plantas.
Veja abaixo como esse ciclo de jardinagem de comunidades funciona para mim.
Comunidades sistêmicas, para mim, são organismos vivos, similares a plantas.
O ciclo de vida começa na semente do propósito. Sem uma causa, um porquê, não há inspiração para unir as pessoas. Falta a cola para uni-las.
Afinal, comunidades sistêmicas são sobre causas e propósitos, essencialmente.
O propósito cai em solo fértil quando encontra um líder, e solta a primeira raiz no seu coração. Ali, ele se fortalece e ganha nutrição, se transforma em paixão e cresce ao ponto de transbordar. De sair do escurinho do peito e tomar coragem e força para se mostrar a outras pessoas.
Quando o propósito é tão forte, mas tão forte, esse líder precisa falar com outras pessoas a seu respeito. É incontrolável.
Pois o líder é o primeiro dos jardineiros que uma comunidade pode ter. É a pessoa que vai inspirar todas as que virão depois.
A expressão desse amor na forma de falas convites, conteúdos, eventos é o transbordamento do propósito para outras pessoas, que se unem ao fundador e se tornam as novas raízes.
São os evangelizadores, os primeiros membros da comunidade. Eles vão fortalecer o solo da confiança, formar a base.
São esses jardineiros que vão começar a preparar o terreno e deixá-lo fértil para essa comunidade crescer forte e segura (e cada planta tem o seu tipo de solo, é preciso respeitar as características e desejos de cada grupo).
Como se faz isso?
Nessa visão biomimética, o terreno fértil é exatamente a formação de um ecossistema com regras claras, acordos explícitos, e o cuidado desse espaço tribal pelos jardineiros. Garantir espaço de fala, respeito mútuo, coerência ao motivo primário de todos estarem ali, juntos (sim, o porquê, como diria Simon Sinek).
Esse primeiro grupo é que vai fazer a planta crescer e atrair novos integrantes, criando tronco, ramos, folhas.
E esses são alguns dos princípios da Ordem, simplificados.
Naturalmente, esse cuidado garante a confiança entre os membros. E dá início à etapa do Pertencimento. A frase que mais me conecta com o senso de pertencer, e que é falada inúmeras vezes no Masters of Learning, o MoL, programa e comunidade linda criada pelo inspirador líder Alex Bretas, e também nas semans de aprendizagem ágil da ALC São Paulo, é
“se joga que aqui tem rede”.
Voltando ao ciclo de crescimento orgânico da comunidade...
Pode ser que essa tribo seja do tamanho de uma pequena orquídea, que se baste com poucos membros e cresça com vigor, mas fique pequena. Pode ser que essa semente seja forte e atraia tantos polinizadores que se tornará uma floresta tropical.
Não importa o tamanho, é preciso dar tempo ao tempo, e garantir a nutrição e sustentar a intenção do grupo para chegar na terceira etapa, a Reciprocidade, a hora de colher os frutos lá na frente.
E sobre Reciprocidade, vivi recentemente uma experiência emocionante.
Recentemente, ao longo da minha jornada de aprendizagem autodirigida sobre comunidades sistêmicas no MoL e também nos encontros de outra comunidade que participo, a ALC São Paulo (Agile Learning Center), apresentei a minha visão de comunidades como árvores, assim como o papel de facilitador como jardineiro.
Nos dois grupos, eu convivo com o Luis Sergio Ferreira Neto, criador do ReAprediz, e o Gustavo Lima, dois jovens (18 e 19 anos, respectivamente) daqueles que vão mudar o mundo com certeza, se sentiram inspirados por essa conversa de jardinagem de comunidades, e pensaram o ecossistema ReAprendiz a partir dessa visão orgânica e evolutiva.
Fico genuinamente impressionada com a criatividade e a capacidade deles imaginarem um mundo totalmente novo a partir dessa reflexão.
Os dois foram muito além de qualquer coisa que eu poderia imaginar, estruturando um campus autodirigido, com diversos canais e ambientes. Uma ágora com bancos na praça para se conversar, um boteco para conversas de mesa de bar, uma sala de cinema, para sessões de TEDs, filmes e trocas depois. E adivinha, os facilitadores são…
Jardineiros
Vocês podem imaginar a emoção de ver uma ideia frutificar, não é? Meu coração ficou pequenininho, e depois ficou quentinho, quentinho...
Hoje, estou energizando a ReAprendiz junto com eles, inclusive para levar experiências de comunidades de aprendizagem autodirigida para dentro de organizações.
Jardinar e inspirar pessoas a recuperarem uma capacidade inata no ser humano: a de ser curioso e aprender espontaneamente, sem regras, a partir de seus objetivos e inspirações, em comunidades de aprendizagem autodirigida.
Fica o convite para conhecerem o ambiente criado no Discord (uma parte aberta, outra é fechada para quem já fez algum programa de aprendizagem conosco).
Agora, me conta: faz sentido para você ser um Community Gardener? E como você se sente: mais jardineiro ou mais gerente de comunidade?
Até a próxima!
(artigo publicado simultaneamente no Medium)
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