Fala galera, sejam bem-vindos!
Fazendo uma pequena apresentação aqui, me chamo Lucas, sou um nordestino com muito orgulho, curioso por natureza, apaixonado por criar conexões genuínas e em uma busca constante por viver com mais amor e menos posse.
Neste artigo gostaria de trocar uma ideia com vocês sobre como eu acredito que as comunidades podem ajudar a construir um novo mundo e qual o papel dos criadores e gestores de comunidades nesse processo de dar escala às inovações sociais.
Queria começar pedindo que vocês assistissem um TED chamado “como começar um movimento” ele é bem rapidinho, extremamente divertido e vai direcionar bem a nossa discussão. Podem assistir ai que eu espero.
Pronto, assistiu? Olha, não vai continuar sem assistir porque tem spoiler ein, vou logo avisando… Bem, no vídeo o Derek Sivers mostra, de uma das maneiras mais geniais que eu já vi, como os movimentos iniciam e a sua capacidade de disseminação meteórica quando alcançam escala. Entretanto, mesmo tendo visto algumas vezes, confesso que demorou um pouco até eu entender os papeis das pessoas nessa criação. Derek fala da importância do líder que inicia o movimento, do primeiro seguidor, das pessoas que vêm logo depois, mas cadê o gestor de comunidade? Ele não é essencial para a criação de comunidades transformadoras? Por que ele não aparece no vídeo?
Essa pergunta me deixou bastante curioso e aproveito para deixar como reflexão aqui até ser respondida no fim do artigo, quem é o gestor de comunidade no TED do Derek Sivers sobre como começar um movimento?
Voltando para o nosso papo de comunidades mudando o mundo, a Margaret Wheatley, uma das minhas maiores referências quando o assunto é gestão de comunidades, resume bem o quão essenciais são esses grupos para a transformação do planeta:
“Apesar dos anúncios e slogans, o mundo não muda uma pessoa de cada vez. O mundo muda na medida em que se formam redes de relacionamentos entre as pessoas que descobrem que partilham uma causa comum e uma visão do que é possível.”
É na evolução dessas redes de relacionamento para comunidades com alto poder de influência que conseguimos escalar o impacto para uma escala global. A partir disso costumo dizer que vejo comunidades como grupos de pessoas que partilham de uma causa comum e a partir disso firmam um compromisso de compartilhamento de experiências e práticas para transformar a realidade em que estão inseridas e desenvolvem símbolos e rituais para que isso se perpetue como um organismo que aprende.
Gosto muito de trazer nas minhas reflexões a partir de observações da natureza para exemplificar como as relações funcionam. A galera costuma chamar esse esforço, de estudar as estruturas e funções biológicas para aprender sobre suas estratégias e soluções, de biomimética. Muitos autores mais antigos usavam dessa estratégia em seus livros para explicar as relações humanas, o Fritjof Capra por exemplo, outra grande referência no estudo dos sistemas vivos, fala sobre isso desde os anos 70. O estudo das comunidades não é algo muito novo, sua utilização pelo mundo corporativo é que é e muitas vezes a superficialidade das estrategias atuais nos privam da possibilidade de imergir mais e tirar nossas próprias conclusões de tudo isso. Mas em outro artigo a gente fala melhor sobre isso, acabei entrando num devaneio aqui.
Pois bem, observando o planeta terra como um grande organismo vivo, como proposto na tese da Hipótese de Gaia, criada em 1979 por James Lovelock e abordada recentemente no artigo “Como será (empreender)ser na era complexa? Um ensaio sobre tudo isso” do meu irmão André Novelino, podemos entender os padrões atuais de comportamento como o sistema imunológico desse ser, algo que impede o funcionamento padrão de mudar. Acontece que em sistemas vivos como esse o sistema imunológico muitas vezes impede que inovações aconteçam e é aí que entram as comunidades.
Quando fortalecemos conexões genuínas entre um grupo de indivíduos, unindo-os a partir de uma visão de como um novo mundo pode ser, acabamos destravando novas trocas de conhecimento que geram o desenvolvimento de novas práticas e isso faz emergir novas características que não eram encontradas nos seus componentes individualmente, somente aparecem na célula formada pela conexão destes. Essa célula, agora armada com essas características novas, consegue furar o sistema imunológico, é como um vírus que sofre mutação, a partir do momento em que mais células sofrem mutações, se conectam e influenciam as outras é iniciado um movimento que pode realmente mudar a forma como o grande organismo do qual elas fazem parte funciona.
Esse fluxo pode ser resumido dessa maneira: juntamos indivíduos a partir de uma causa >> desenvolvemos relacionamentos genuínos entre eles a partir das suas semelhanças >> esses novos relacionamentos incentivam o desenvolvimento de novas práticas >> essas novas praticas fazem os indivíduos firmarem um compromisso maior com a mudança >> essa mudança é colocada em prática pela comunidade >> uma nova forma de existir vira a regra.
Pode ter parecido bem doido todo esse papo de células e organismos e realmente foi bem doido, mas como é bonito poder ver o ambiente macro acontecendo também no micro, “o que está no alto é como o que está embaixo e o que está embaixo é como o que está no alto”.
Isso é uma ótima notícia para nós, significa que não precisamos mudar a cabeça de cada uma das pessoas do mundo para conseguir construir um futuro mais sustentável para o todo, basta que conectemos os protagonistas, aqueles que já estão fazendo hoje, no ambiente em que estão inseridos, a mudança que queremos que aconteça no mundo todo. Essa conexão de espíritos afins provocará as emersões que são a maneira como a vida provoca mudanças radicais na natureza.
Comunidades são fenômenos emergentes, ou seja, exercem muito mais poder do que a soma de suas partes, pois possuem novas capacidades a partir das diferentes ações locais que os engendrou. Eles sempre surpreendem como aparecem.
“Lucas, achei legal esse papo todo, mas não consegui entender esse lance de emergência. Explica melhor ai!”
Beleza, vamos pegar outro exemplo, agora na química (lascou de vez), se pegarmos os átomos de hidrogênio, carbono e oxigênio individualmente eles não possuem a característica do sabor doce, mas quando conectamos esses átomos em uma quantidade adequada e numa determinada estrutura, mais especificamente a da molécula de glicose (C6H12O6), obtemos o sabor doce. Logo, o sabor doce é uma característica emergente da glicose.
Agora foi né?
“Boa, agora foi sim, que coisa doida, então quer dizer que a gente conecta pessoas a partir de um propósito comum, uma visão de futuro possível que é boa, e ai ao evoluirmos esse grupo ao nível de comunidade podemos provocar uma influência em outros grupos e começar um movimento cascata para uma transformação positiva?”
É isso ai, esse lance de comunidade é uma viagem mesmo, mas é esse o caminho.
“E como a gente faz essa evolução de um grupo de pessoas para uma comunidade?”
Então, basicamente o caminho a ser seguido é conectar esses indivíduos a partir das necessidades pessoais deles, formando uma rede. Nessa rede precisamos facilitar encontros e experiências que promovam conexão, muito voltado para construção da visão de mundo que conecta todos eles e atende às suas necessidades. A partir desse processo os indivíduos irão descobrir sentido e propósitos comuns e irão fazer compromissos e assumir papeis. No momento em que o sentimento pela comunidade deixa de ser apenas o de ter algo a receber e começa a ser também um compromisso de também ter algo a dar, um papel para colaborar, essa rede se transforma em uma comunidade de prática (aqui mora o grande objetivo quando se constrói uma comunidade, mas falo sobre em outro papo) e a sua característica dominante é a da troca de experiências e conhecimentos entre os membros com o objetivo de construir novas práticas, com o tempo e a partir dos mecanismos construídos para a perpetuação desses conhecimentos e práticas o que antes precisava ser reforçado e incentivado passa a ser a nova maneira como as coisas são feitas, o novo status quo desse grupo. A partir dai essa comunidade passa a se comportar como um sistema de influência, se auto gerindo e influenciando outros grupos para começar um movimento.
Esse é o ciclo de vida da emergência, como fazemos para fazer emergir as características únicas formadas pelas conexões das nossas comunidades.
“Lucas, e a pergunta lá do início? Quem é o gestor de comunidade no TED do Derek e qual o papel do gestor de comunidade nessa transformação? Eu tô fascinado e quero participar dessa transformação também!’
Poxa, ia esquecendo! Fico feliz demais que você queira participar desse movimento, vamos precisar de muita gente boa para fazer acontecer. Então, na minha visão o gestor de comunidade é a pessoa que colocou a música para essa galera toda dançar!
Isso fala muito sobre o como eu vejo o papel dos criadores e gestores de comunidades, eles não estão lá para serem os protagonistas na criação do movimento, mas sim para construírem um ambiente favorável para que esses líderes protagonistas possam iniciar seus movimentos e suas comunidades, para criarem um espaço acolhedor para que sejam formadas redes de apoio sinceras, verdadeiras e bonitas. Só dessa forma estarão fazendo um trabalho realmente positivo para a humanidade.
Por hoje foi tudo isso galera, espero que vocês tenham gostado! Não deixem de falar comigo para dar opinião e nem de compartilhar suas reflexões com os parceiros, esse é o momento mais rico.
Espero compartilhar outros momentos com vocês falando sobre como efetivamente promover essa evolução, quais os ciclos de engajamento que precisamos ter como base para construir nossas curvas de comprometimento, quais ferramentas podemos usar para facilitar os momentos de construção e, principalmente, como medir de verdade o impacto da nossa comunidade.
Um abraço virtual forte em todos vocês.