No desenvolvimento de uma comunidade, um dos principais fatores de sucesso, é a co-criação com os membros. Não adianta ficar sozinho atrás do seu notebook pensando nos eventos incríveis que você quer organizar e depois se decepcionar com poucas pessoas participando. Assim como um produto novo de uma startup é validado com um MVP, a comunidade também pode ser desenvolvida aos poucos. Para tanto, proponho um conceito que chamei de Lean Community.
AUMENTANDO O ENGAJAMENTO DA SUA COMUNIDADE
Quando comecei a atuar no desenvolvimento da comunidade do Nexus – Hub de Inovação do Parque Tecnológico de São José dos Campos, o termo gestão de comunidades ainda nem existia – era chamada de equipe de relacionamentos empresariais – e os desafios eram os mais variados, mas o principal, de quase qualquer gestor de comunidade: o engajamento.
Realizávamos os mais diversos eventos, convidávamos profissionais de peso e ainda assim, a quantidade de participantes era extremamente baixa. Começamos então a co-criar com a comunidade e entender o que eles precisavam.
Há empreendedores com dificuldade realizar vendas B2B? Vamos convidar um profissional para falar de spin selling. O fluxo de caixa e a DRE parece um bixo papão de quatro cabeças? Quem sabe é o momento para um workshop mão-na-massa de finanças. E, assim, testando, uma ação por vez, obtendo feedbacks, fomos desenvolvendo uma trilha de conteúdos para capacitação e, da mesma forma, construímos todas as outras ações de interação com a comunidade.
O resultado foi refletido diretamente no aumento de participantes nas atividades que realizávamos e, indiretamente, na quantidade de novos inscritos para fazer parte do Nexus – aumentamos de 19 para 75 startups residentes nos 3 anos e meio que estive lá!
COMO OBTER INSIGHTS DA COMUNIDADE
A sua comunidade é uma fonte infinita de ideias. Talvez se você perguntar “quem você gostaria que fosse o palestrante do evento xyz?” eles são saibam responder ou indiquem pessoas um tanto inacessível.
Entretanto, se você se dedicar a conhecer seus membros, seus desafios e suas metas, você pode encontrar pessoas incríveis – não tão conhecidas – para inspirar, engajar e capacitar sua comunidade.
O LEAN COMMUNITY CANVAS
Sim, existe o Community Canvas. Entretanto, como propõe James C. Hunter, autor do livro O Monge e o Executivo, uma comunidade passa por quatro fases de amadurecimento: 1 - Fingimento 2 - Fricção 3 - Formação 4 - Funcionamento.
Isso me levou a considerar que na fase inicial do desenvolvimento da comunidade, é possível definirmos um menor número de hipóteses e testá-las de forma a gerar a fricção necessária para chegar a terceira etapa. Nesse momento, o Community Canvas é, então, essencial.
Assim como no universo das startups existe o Business Model Canvas, mas também o Lean Canvas, proponho então a utilização do Lean Community Canvas para estruturar de forma inicial uma comunidade. É uma ferramenta bem mais simples, mas que proporciona um desenvolvimento mais ágil e possibilita inúmeras iterações.
Eu entendo que regras, propósito, identidade, entre outros elementos do Community Canvas vão sendo desenvolvidos com o tempo pela comunidade e, portanto, as duas ferramentas são complementares.
O Lean Community Canvas é composto de 7 campos, que devem ser preenchidos na seguinte ordem:
1- Nome da Comunidade: pode parecer óbvio, mas é preciso criar um nome, uma identidade, para que as pessoas se identifiquem como membro daquela comunidade.
2- Público-Alvo: quem deve ser membro daquela comunidade. Ter clara essa definição otimizará esforços na hora de recrutar novos membros. Se aquele público-alvo tiver baixa adesão, pode ser que ele não seja o seu público-alvo ideal.
3- Nicho de Atuação: cada vez mais produtos e serviços ficam mais específicos. O mesmo vale para comunidade. Uma comunidade de desenvolvedores é extremamente aberta e heterogênea. Isso dificulta o desenvolvimento de ações específicas e diminui o engajamento. Existe, por exemplo, a Django Girls São Paulo, é uma comunidade de mulheres com interesse na linguagem de programação Django. Qual o seu nicho de atuação? Se a sua comunidade dor extremamente nova, ela pode se segmentar com o tempo. Por exemplo, há pouco tempo surgiu a comunidade de gestores de comunidade. Atualmente, está começando a existir uma segmentação e formando os gestores de comunidade de ambientes e hubs de inovação.
4- Funil de Relacionamento: quais são as camadas de conexão com os membros. Qual é a porta de entrada? Por exemplo, existem oportunidades abertas nos quais pessoas de fora da comunidade podem participar? E para os membros mais ativos, existe um canal exclusivo para que eles proponham sugestões e co-criem as ações da comunidade? Proponho iniciar o funil com 3 etapas: não membros, membros e membros super ativos. Com o tempo podem ser adicionadas outras camadas como membros com baixo engajamento, segmentação da comunidade, etc.
5- Ações de Interação: uma vez que foi definido o funil de relacionamento, basicamente esse campo é a especificação de cada etapa do funil. Seguindo o exemplo anterior, quais são as ações de interação que promovem oportunidades abertas? Eventos de welcome aboard? Eventos internos, mas que também são abertos ao público? Grupos abertos no whatsapp? Já, por exemplo, no caso dos membros mais ativos, seria possível fazer happy hours exclusivos? Oferecer mentorias premium? Quais são as ações de acordo com a proximidade de cada membro da comunidade.
6- Metas: Qual o objetivo da sua comunidade? É reputação da marca? A meta pode ser então um número X de membros com um engajamento nas ações de Y% e um nível de satisfação de Z%. O objetivo pode ser ainda desenvolver novos produtos e serviços, desenvolver novos negócios de startups, disseminação de conhecimento, entre outros. É importante refletir sobre o objetivo que você está construindo aquela comunidade para definir metas para a sua comunidade.
7- KPIs: Para que qualquer coisa seja gerenciada, ela precisa ser medida. Sendo assim, quais são os indicadores que permitem entender se as metas estão sendo ou não atingidas? Se o objetivo é alcançar 2.000 membros na rede, com engajamento médio superior a 50% e um nível de satisfação de 70%, os indicadores são, portanto: número de membros da comunidade, engajamento médio e nível de satisfação.
AO ONLINE E ALÉM
Com o cenário atual do covid-19, muitas mudanças estão sendo necessárias na gestão de comunidade. A transição dos eventos offline para o online, é certamente, um dos maiores desafios. Espero que, ao compartilhar o conceito de Lean Community e o Lean Community Canvas, possa te ajudar a desenvolver a sua comunidade!
E ai gostou? Me conta nos comentários!