O desconhecimento sobre comunidades online afetou a Educação? Essa reflexão-pergunta surgiu durante o curso Community Manager Academy, conhecimento que busquei após viver a migração das aulas presenciais para EAD em uma escola pública no último ano. Me chamo Débora, tenho 30 anos e falo de Belo Horizonte, Minas Gerais. Fica comigo que vou te contar essa história.
Para princípio de conversar é preciso saber que na escola a maioria das pessoas começam a ser parte de comunidades de forma autônoma, ou seja, identificamos nossos pares por nossos próprios critérios. Nesse ambiente, também começamos a ter experiência com outros tipos de liderança e com auto gestão coletiva. Antes disso e fora dali, as relações interpessoais são delimitadas geograficamente e/ ou pela escolha de responsáveis legais, por isso, fazemos amizade com quem mora perto e é do convívio parental. È exatamente essa força educativa da socialização ampliada, a formação do senso de comunidade para além das nossa casa e vizinhança, que faz da escola um direito constitucional.
Pois bem, dito isso, voltemos a março de 2020, a exatos um ano atrás da escrita deste texto aconteceu uma grande migração para o ensino à distância, as aulas presenciais foram canceladas em todo país devido a crise sanitária. Mudamos metodologias, passamos a usar ebooks, câmeras, microfones e a direcionar esforços para que o ano escolar não fosse perdido. Mas e a comunidade escolar? O que aconteceu com todo esse eco sistema de relações em um momento em que não se sentir só era tão importante?
Naquela época lecionava aulas para jovens no ensino técnico na rede estadual de ensino, e o foco em adaptar primeiro conteúdo e depois (ou nunca) a comunidades no ambiente virtual custou caro em termos de evasão e engajamento, tanto de estudantes quanto de docentes. Muitos grupos surgiram em aplicativos como um canal alternativo de diálogo entre responsáveis legais, estudantes e equipe pedagógica, mas a falta de conhecimento sobre a cultura digital, resultou em muitos mal entendidos. A medida que migrávamos para o EAD estudantes migravam para fora dos cursos.
Até 2019 as equipes pedagógicas e o grêmio estudantil tinham, em seu eclético escopo de responsabilidades, algumas atividades comuns a da gerência de comunidades. Contudo a chegada do novo normal modificou as relações e as funções, criando uma lacuna que engoliu essas atividades. As micro comunidades que eram geridas de forma autônoma por estudantes sobreviveram a essa mudança, às vezes até se fortalecendo, afinal, a cultura digital fazia parte da vida de estudantes, já a educação digital, não. Ou seja, a relação entre as pessoas que estudavam na escola não sofreu tanto impacto quanto a relação dessas mesmas pessoas com a escola. Aqui vale pontuar que, essa conclusão talvez não valha em pé de igualdade quando falamos de educação infantil, aquela que acontece na primeira infância, onde a socialização com colegas de escola ainda depende do engajamento de responsáveis legais.
Após concluir o curso me perguntei: será que as escolas precisam de Community Managers? Qual o impacto educacional isso teria? A resposta não é simples ou absoluta e ainda não arrisco tentar dá-la. Arrisco, entretanto, a crer e a dizer que se gestores e professores tivessem acesso a esse conhecimento talvez o impacto da evasão poderia, ao menos, ser reduzido. Junto com o conteúdo escolar é igualmente importante (re)pensar o resgate e ressignificação da comunidades escolar no novo normal.